segunda-feira, 22 de novembro de 2010

UM FUTEBOL DE MENTIRA


Paira sobre alguns clubes portugueses, que disputam a primeira Liga de futebol profissional, o espectro da falência, ainda antes do final da presente época desportiva.
O assunto parece ser de tal forma sério que mereceu honras de abertura no programa desportivo "O Dia Seguinte", que passa, nas noites de Segunda-Feira, na SIC Notícias.
A avaliar pelo que foi dito no referido programa, a difícil situação financeira em que se encontra o Beira-Mar e o estado de penúria do Vitória de Setúbal não serão casos únicos, entre os clubes que disputam a primeira Liga, sendo expectável que outros venham a revelar, em breve, os seus gravíssimos problemas financeiros.
Não se trata de uma situação nova, como bem lembraram os comentadores do programa, já que todos conhecemos o que se passou, por exemplo, com o Farense, o Salgueiros, ou o Boavista, mas seria inédito se algum clube viesse a ter de abandonar a participação na competição, antes de terminada a época desportiva.
Interessante, ou talvez não, é verificarmos que há já quem aproveite para defender a criação de uma Liga Ibérica, como se isso não fosse, apenas, uma eventual solução para os problemas de poucos e os pequenos clubes não continuassem a ter problemas de viabilidade.
Os problemas com o financiamento dos clubes portugueses de futebol profissional são crónicos, e se muitos sobreviveram, até hoje, isso deve-se a favores de diferentes naturezas, quer por parte do Estado e das Autarquias, quer através da carolice e mecenatismo de muitos.
Contudo, o futebol nacional continua a ser uma espécie de "feira de gado da Malveira", para usar a expressão de José Ribeiro e Castro, com clubes pobres e muitos interesses à sua volta, que em nada os beneficiam e deles se aproveitam. Mas enfim, isso são outros vinte cinco tostões...
Como já aqui defendi, várias vezes, é preciso começar por reconhecer a falência do actual sistema e avançar com medidas drásticas no sentido de proteger os clubes e defender uma indústria que, apesar de demonstrar uma enorme vitalidade em matéria de captação de receitas, parece condenar ao empobrecimento os seus principais intervenientes.
Só que isso requer o empenhamento do Governo, da Federação, da Liga, dos Clubes e de todos aqueles cuja actividade principal gira em torno do futebol, como é o caso, por exemplo, da Olivedesportos, que detém a quase totalidade dos direitos televisivos.
Sem prejuízo de outras medidas, entendo que seria urgente fazer aprovar as seguintes:
1. Redução do número de clubes que disputam as Ligas profissionais, para um máximo de 12 equipas em cada uma, e definição de um modelo que leve à realização de um maior número de jogos entre as principais equipas, aumentando-se, assim, as receitas, quer de bilheteira, quer as que se relacionam com de televisão, publicidade e patrocínios;
2. Negociação, pela Liga de Clubes de Futebol Profissional, com a Olivedesportos, visando a aquisição da totalidade dos direitos televisivos;
3. Estabelecimento de um sistema de repartição das receitas provenientes dos direitos televisivas entre os clubes, semelhante ao que ocorre noutras Ligas, como a espanhola, por exemplo;
4. Aprovação de um limite máximo de endividamento, em função do valor médio dos activos, disponíveis e realizáveis;
5. Criação de um organismo autónomo, no seio da Liga, com as funções de acompanhar e controlar a evolução das contas dos clubes e sociedades anónimas desportivas, bem como as aquisições e vendas de passes de jogadores e respectivos fluxos financeiros;
6. Revisão da legislação que regula o funcionamento das sociedades anónimas desportivas e o seu relacionamento com o clube de que são originárias.
Sem estas alterações, que reputo de essenciais para a sobrevivência dos nossos principais clubes e do futebol português, receio que continuemos a viver num futebol de mentira, que a muitos aproveita, mas cujas consequências não me parece ser possível continuar a ignorar, por muito mais tempo...

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